Escolas investem no ensino do xadrez em Juiz de Fora
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013O xadrez tem ocupado um papel cada vez mais importante no cotidiano escolar de Juiz de Fora. Em diversas instituições, tanto na rede pública quanto na área privada, a atividade tem sido incluída como opção no horário extraclasse. Para a doutoranda e pesquisadora do Laboratório de Comunicação, Entretenimento e Cognição da Universidade Estadual do guia Rio de Janeiro (Uerj), Letícia Perani, as instituições que investem na estratégia só têm a ganhar. “Pesquisas científicas comprovam que o xadrez desenvolve habilidades cognitivas, e ajuda na aprendizagem e no rendimento das crianças em sala de aula.”
Vários colégios na cidade de Juiz de Fora têm testemunhado esses resultados. Na Escola Municipal Professor Engenheiro André Rebouças, no Milho Branco, a professora Patrícia Coelho começou a incentivar a prática em 2006, mas, só em 2009, conseguiu implantá-la na grade curricular. O aluno Murilo dos Santos, 13 anos, logo quis experimentar e vem acumulando conquistas, como o primeiro lugar nos Jogos Escolares de Minas Gerais (Jemg), em 2011. “Além de ter melhorado meu raciocínio e concentração, passei a ter mais gosto pela leitura.”
No Stella Matutina, o ensino envolve o uso de uma apostila elaborada pelo professor Haroldo Carvalhido, que explica desde os fundamentos teóricos do xadrez até os movimentos das peças no tabuleiro. Para o docente, o primeiro grande benefício é a promoção da sociabilidade. “Muitos alunos chegam aqui muito tímidos, e essa vivência do jogo ajuda a conviver em grupo, a respeitar a decisão do outro, a esperar o momento certo de agir ou falar. Isso reflete na autoestima deles também, até porque o xadrez é associado à maturidade, inteligência.”
Responsável pelo grupo de xadrez do Colégio Academia, onde o jogo faz parte tanto da grade curricular quanto da lista de atividades opcionais, Justino de Paula lista outras vantagens da prática. “Muitos alunos são encaminhados para cá porque têm problemas de disciplina ou de concentração. O xadrez faz com que reflitam mais sobre tudo que fazem, porque no jogo, cada movimento é muito importante. A prática também faz com que lidem melhor com as frustrações. Além disso, há melhoras na memória, no raciocínio lógico e, consequentemente, no rendimento escolar.”
Haroldo reforça este argumento, utilizando como base uma pesquisa feita com seus próprios alunos. “Observei grupos de estudantes durante três anos e, quando eles começam a jogar, suas médias tendem a subir. Se abandonam a prática, as notas costumam baixar. É preciso lembrar, claro, que o benefícios aparecem a longo prazo, não adianta esperar resultados imediatos, vai até contra um dos princípios do xadrez, a paciência.”
Legislação
Em outubro passado, um projeto do então vereador Francisco Canalli (PMDB) chegou a ser aprovado na Câmara Municipal, prevendo que os colégios municipais incluíssem o ensino do xadrez em seu programa, aberto a alunos de todos os períodos, com carga horária mínima de uma hora semanal.
No fim de novembro, o texto foi vetado no Executivo, mas, em uma plenária do Legislativo, o veto foi derrubado, abrindo a possibilidade para a prática ser adotada nas escolas públicas da cidade. “A medida não é impositiva. Venho acompanhando iniciativas em países, como Argentina e Estados Unidos, onde pesquisadores constataram um aumento impressionante no rendimento de alunos que jogavam xadrez. Acho que a educação de Juiz de Fora será muito beneficiada”, comenta Canalli, agora atuando como secretário de Esportes do município.
Para a Secretaria de Educação, a nova lei vem apenas regularizar a carga horária das nove escolas do município que adotam o ensino do xadrez por iniciativa própria (ver quadro). A proposta é desenvolvida de acordo com o interesse dos alunos e a indicação dos professores.
A secretaria não descarta a possibilidade de capacitar mais instituições e profissionais para o ensino do xadrez, que foi introduzido em 2006, quando o MEC forneceu diversos jogos para serem oferecidos às escolas.
As vantagens do xadrez estão claras para os maiores beneficiários: os jogadores. Com apenas 9 anos, Júlia Maximiliano, aluna do Stella Matutina, é a sétima colocada no ranking nacional de xadrez, e vê em suas conquistas muito mais que o fato de ser uma campeã. “Desde que comecei a jogar, com 6 anos, estou mais concentrada e penso mais sobre qualquer decisão que preciso tomar. Além disso, o xadrez me ajudou muito em matemática.” O coro é engrossado pelo adolescente Pedro Ferreira Lage, do 9° ano da Academia, adepto do xadrez desde os 8 anos. “Sempre gostei do jogo, e ele me ajuda de diversas formas, desde o desempenho em todas as matérias, pois meu raciocínio é muito mais rápido, até a tranquilidade para agir em situações de pressão ou estresse, como provas.”
Versão online
Com o avanço da internet e sua alta popularidade entre crianças e adolescentes, os tabuleiros de xadrez vêm sendo substituídos por sua versão online. Para a pesquisadora da Uerj, Letícia Perani, esta maneira de jogar tem seus prós e contras. “As versões para computador não trabalham tanto com a percepção espacial, por estarem na tela, movimentados apenas pelo mouse, mas os games de xadrez online ajudam na sociabilização dos jogadores, uma vez que eles podem encontrar pessoas do mundo todo que também estejam interessados em compartilhar informações e conhecer novos amigos.” Já o professor da Academia, Justino de Paula, vê apenas benefícios no jogo em sua forma virtual. “É uma forma de desenvolver a técnica em casa, jogar com pessoas diferentes dos oponentes do dia a dia, enfim, expandir a prática para um outro contexto de lazer.”
Alunos também reconhecem benefícios
Segundo o professor do Colégio Stella Matutina, Haroldo Carvalhido, o xadrez deve ser, antes de tudo, prazeroso para o estudante. “O jogo é muito importante no desenvolvimento cognitivo deles, por isso, é essencial fazer com que se interessem pela atividade. Só assim, desfrutarão de todos os benefícios que ela pode oferecer.” Ainda segundo o docente, os pais precisam ser cuidadosos para que não haja cobrança excessiva no desempenho dos jogadores mirins. “Muitos esperam que os filhos sejam campeões após poucos meses de aula, o que não acontece. O xadrez é um aprendizado contínuo, e os pais precisam ter esse conhecimento ou vão acabar criando uma pressão grande sobre a criança, fazendo com que o jogo a prejudique, ao invés de ajudar.”
Conforme a pesquisadora Letícia Perani, para que os benefícios de qualquer jogo sejam alcançados é essencial que escola e família acompanhem o desenvolvimento da criança.” Acredito que as atividades lúdicas em geral trazem benefícios cognitivos aos seus praticantes. Quando usados para fins educacionais, devemos apenas prestar atenção nas características destes jogos e nas habilidades desenvolvidas para adequar a atividade à faixa etária da criança, isso deve ser feito tanto pelos profissionais da educação quando pelos pais.”
Atenta aos movimentos do filho Arthur, 7 anos, no tabuleiro, a enfermeira Maria Tereza Castilho Fernandes vê reflexos deste aprendizado no pequeno. “Ele entrou por vontade própria, mas os benefícios foram muito nítidos para mim. O Arthur é hiperativo e tinha muitos problemas de concentração. Hoje em dia, está mais focado, mais tranquilo, presta mais atenção em tudo que faz.” Entre uma observada nas peças e uma jogada, Arthur reconhece os efeitos positivos do xadrez. “Sou muito agitado e fiquei mais tranquilo, mas jogo mesmo porque acho muito legal.”
Fonte: Tribuna de Minas
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